Ameaças ao ecossistema de APIs podem vir de dentro da empresa

por | julho 2023 | Blog | 0 Comentários

A transformação digital é uma realidade incontestável no cenário empresarial contemporâneo, especialmente em ambientes de negócios B2B. Neste contexto, as interfaces de programação de aplicações, mais conhecidas como APIs, tornaram-se elementos fundamentais na estruturação e operação de sistemas empresariais. Elas atuam como pontes de conexão entre diferentes softwares, permitindo a comunicação e a integração de dados de maneira eficiente e, se bem gerenciadas, segura. 

No entanto, assim como qualquer recurso tecnológico, as APIs também estão sujeitas a vulnerabilidades. Em particular, ameaças internas – uma problemática muitas vezes subestimada – representam uma porção significativa dos riscos de segurança que as empresas precisam mitigar. Estas ameaças não se originam necessariamente de ações maliciosas, mas podem advir de falhas humanas, descuidos ou falta de processos de governança adequados. 

Este artigo tem como objetivo explorar a natureza das ameaças internas ao ecossistema de APIs, analisar suas origens mais comuns e propor estratégias efetivas para sua prevenção. Ao ampliarmos a nossa compreensão sobre este assunto, estaremos mais bem preparados para proteger nossos ativos digitais, garantindo a segurança e a continuidade dos negócios em um mundo cada vez mais conectado. 

O papel do elemento humano nas ameaças internas 

Quando falamos de ameaças internas, a primeira imagem que pode surgir em nossa mente é de um ator mal-intencionado, operando sorrateiramente dentro da empresa para acessar informações sensíveis ou comprometer a infraestrutura tecnológica. Contudo, é importante salientar que esta imagem corresponde apenas a uma parcela dos riscos internos que as empresas enfrentam. 

Na verdade, um dos fatores predominantes em incidentes de segurança não é a má intenção, mas sim o erro humano. O relatório Verizon Data Breach Investigations Report de 2023 revelou que 74% dos incidentes de segurança envolvem o chamado “elemento humano”. Esses incidentes podem ser decorrentes de várias situações, como falta de treinamento adequado, negligência, uso inadvertido de recursos de TI ou até mesmo enganos simples como cliques indevidos em links maliciosos. 

No contexto das APIs, o elemento humano assume um papel ainda mais relevante. Na ânsia de acelerar a entrega de novos serviços e soluções, as equipes de desenvolvimento podem, por exemplo, negligenciar auditorias de segurança adequadas antes de colocar APIs em produção, ou utilizar APIs internas em ambientes externos sem os controles de segurança necessários. Adicionalmente, a falta de uma estratégia de governança de APIs pode levar à existência de APIs desconhecidas (ou sombras) e desatualizadas (ou zumbis) na infraestrutura, aumentando ainda mais os riscos. 

Riscos comuns na segurança das APIs 

Dentro do ecossistema de ameaças internas às APIs, existem três riscos predominantes que merecem uma atenção especial: a ausência de controles de segurança, o uso impróprio de APIs internas externamente e a falta de governança. 

Ausência de controles de segurança 

Acelerar a transformação digital é uma meta comum nas empresas B2B. Contudo, essa pressa em entregar novos serviços e soluções pode levar a atalhos inseguros. Muitas vezes, APIs são levadas à produção sem passar por auditorias de segurança adequadas. A falta de controles de segurança apropriados pode deixar os dados críticos da empresa expostos a acessos indevidos, levando a exposição excessiva de dados, que figura entre as principais vulnerabilidades na lista da OWASP de segurança em APIs. 

Uso de APIs internas externamente 

O uso indevido de APIs internas em ambientes externos é outro risco significativo. APIs internas são criadas para serem utilizadas dentro do perímetro de segurança da empresa, e por isso, não possuem as mesmas barreiras de proteção que APIs externas. Entretanto, se expostas ou reutilizadas externamente, podem ser um canal para ataques. Um exemplo disso foi o incidente que ocorreu com a Optus, provedora de telecomunicações australiana, em que uma mudança de ambiente expôs mais de 10 milhões de registros de clientes. 

Falta de governança 

Por fim, a ausência de uma estratégia de governança de APIs efetiva resulta em um cenário conhecido como “API sprawl”. À medida que as empresas crescem e sua estrutura de TI se torna mais complexa, o número de APIs em uso também aumenta, tornando cada vez mais difícil o gerenciamento e o rastreamento dessas interfaces. Sem um inventário atualizado e uma documentação apropriada, as empresas se tornam vulneráveis a exposições indesejadas de suas APIs, o que pode levar a uma série de problemas de segurança. 

Esses riscos ilustram como as ameaças internas podem comprometer a segurança das APIs, evidenciando a necessidade de uma abordagem mais consciente e estratégica para lidar com essas questões. 

O custo da negligência 

A negligência em relação à segurança das APIs pode ter consequências severas para as empresas. Ameaças internas, muitas vezes originadas de simples descuidos, contas comprometidas ou falta de supervisão, podem acarretar em lacunas de segurança que resultam em exfiltração de dados, invasões de contas ou interrupções de sistema. 

No contexto B2B, esses incidentes de segurança não afetam apenas a empresa em questão, mas também seus parceiros de negócios, clientes e fornecedores. Uma violação de dados pode ter um impacto direto na confiança e na reputação de uma empresa, que são fatores vitais para a manutenção de relacionamentos comerciais duradouros e rentáveis. 

Além disso, a exfiltração de dados pode levar a perdas financeiras significativas, seja por meio de multas regulatórias, ações judiciais ou simplesmente pela perda de negócios futuros. Além disso, a correção das falhas de segurança, a investigação do incidente e a recuperação pós-violação podem exigir recursos financeiros e de tempo consideráveis. 

Também é importante mencionar os custos associados à interrupção dos negócios. Dependendo da natureza do incidente, uma empresa pode ter que interromper suas operações até que a violação seja contida e os sistemas sejam recuperados. Essa interrupção pode causar atrasos nos serviços, prejudicando a satisfação do cliente e a entrega de valor ao negócio. 

Por fim, o custo emocional não deve ser subestimado. Um incidente de segurança pode levar a um ambiente de trabalho estressante, prejudicar a moral dos funcionários e afetar a cultura organizacional. 

Por isso, é imperativo que as empresas reconheçam a importância de implementar programas de ameaças internas para identificar suas APIs e procurar opções tecnológicas para descobrir e monitorar as APIs em seus ambientes. Com a tecnologia e a governança adequadas, as empresas podem proteger seus ativos mais valiosos. 

Protegendo ativos de negócios 

Entender e mitigar os riscos internos é apenas o começo. As empresas devem ir além, implementando programas robustos de ameaças internas que se concentrem em proteger suas APIs. Afinal, são essas interfaces de programação que detêm as chaves para os dados mais críticos da empresa. 

Primeiramente, é necessário que haja um compromisso com a segurança desde a concepção. Os desenvolvedores devem considerar a segurança de API desde o início de cada projeto, garantindo que os controles adequados sejam implementados. Isso inclui a autenticação, a autorização e a criptografia adequadas para proteger os dados em trânsito e em repouso. 

Além disso, as empresas devem adotar uma abordagem de “defesa em profundidade” para a segurança das APIs, implementando várias camadas de proteção para garantir que, mesmo que uma falha ocorra, os ativos da empresa continuem protegidos. 

A governança de APIs é outra estratégia crítica que deve ser implementada. Isso envolve o monitoramento constante das APIs, a manutenção de um inventário atualizado de todas as APIs na infraestrutura da empresa e a revisão regular das políticas de segurança de API. A implementação de práticas de DevSecOps pode ser extremamente útil nesse aspecto, pois integra práticas de segurança ao longo de todo o ciclo de vida de desenvolvimento das APIs. 

Finalmente, é importante lembrar que a tecnologia por si só não é suficiente para garantir a segurança das APIs. Uma cultura de segurança forte também deve ser cultivada, onde cada membro da organização compreende seu papel na proteção dos ativos digitais da empresa. Isso pode ser alcançado através de treinamentos regulares, reforçando a importância da conformidade com as políticas de segurança e incentivando a adoção de práticas seguras. 

Com essas estratégias em prática, as empresas podem transformar ameaças internas em defesas internas, garantindo que seus ativos de negócios permaneçam seguros e suas operações, ininterruptas. 

Lembramos que a segurança não é apenas uma necessidade, mas uma vantagem competitiva. Empresas que demonstram uma abordagem forte e proativa para a segurança inspiram confiança em seus parceiros de negócios, construindo relacionamentos duradouros e bem-sucedidos. 

Dessa forma, devemos abraçar a segurança não como um fardo, mas como uma oportunidade. Uma oportunidade para aprender, para melhorar e para evoluir em um ambiente de negócios cada vez mais digital e conectado. Afinal, a segurança é a chave para que as empresas continuem a inovar e prosperar no cenário atual. 

Fonte: https://www.forbes.com/sites/forbestechcouncil/2023/07/07/three-ways-insider-threats-contribute-to-api-cyber-risk/?sh=7da5b10a892b